segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Brilho do Sol

E o que existe além do brilho do Sol?
Todo calor que me aquece, tenho certeza,
Apenas do sol não há de ser.

Minha quentura não é só de luz,
É também da vontade de
Desejar o desejo.
De viver a vida.
De amar o amor.

Mas o que existe além do brilho do Sol?
Toda essa luz que cega os meus olhos, tenho certeza,
Apenas desse gigantesco amarelo não há de ser.

Minha visão não enxerga apenas
O que é pra ser visto.
Enxergo o sentimento.
Enxergo as vontades.
Enxergo a vida que passa calmamente.

E minha visão é privilegiada.
Porque eu sei que o Sol brilho para mim,
Porque eu sei o que vejo.
É o meu desejo.
É a minha alegria.

É, sobretudo,
A felicidade da alma do poeta.
A magia do poder ter a sensibilidade
Do universo insensível.

O universo do hoje,
Da sociedade.

E o que existe além do brilho do Sol?
Eu sei, mas é inexplicável.
Tão inexplicável quanto o seco mato do sertão,
Que, com uma gota, torna tudo um mar verde.


- Vitor Rabelo de Sá

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Goiaba.

Às vezes sinto que os meu fatos
Estão presos na minha ilusão.
Mas será?
Isso pode enfraquecer a alma,
Pode afetar a vida.
Espero que essa sorte possa trazer
Um pouco de alegria,
Um pouco de alegria para alegrar o sorriso
Que tanto tens.

E que isso possa ser rápido,
Que isso seja agora!
Porque eu sei que essa lua
Pode um dia parar de brilhar.
Porque esse tempo mundano é finito,
É fim.
Mas o tempo que carrego dentro do peito
Não acaba.
Pois cabe nele todo o carinho desse mundo.

Ah, Coração!
Diga-me como posso amar
Toda essa dor.
Quero a alegria inundando o meu corpo,
Quero ver a felicidade no sorriso da criança.
A criança que mora aqui,
Dentro de mim,
Dentro de ti.

E quantos dias de vida
Meu corpo irá aguentar?
Porque o tempo passa,
O corpo envelhece,
A alma entristece.
O coração tenta se alegrar,
Mas a vida é curta,
A vida é uma fruta:
Amarga por fora,
Mas adocicada por dentro,
Isso é o importante.

 Não quero que tudo termine assim
Friamente.
Não quero que a Mãe Natureza devaste
A alma.
Quero o tranquilo brilho da Lua
A me aquecer.
Quero que esse calor possa me tornar
Aquele desejo do mais puro amor.

- Vitor Rabelo de Sá

A lua

Mas o brilho tão calmo da lua
É consequência da explosão do Sol,
É o fruto do ardente calor de um desejo.

Mas quando a lua olha para mim,
Sinto toda a calmaria da delicadeza.

- Vitor Rabelo de Sá

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Se puder sem medo

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

- Oswaldo Montenegro.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Estrelas.

Chegou a madrugada
Na cidade dos sonhos.
As luzes brilham
Tão profundamente
Que até o mais obscuro ser
Há de ser iluminado.

A chuva que cai tranquilamente,
Apaga o fogo do dia
Que ainda queima no asfalto.
E enxarca os corações
Dos amantes mais apaixonados.

O infinito mar de estrelas
Apenas observa os lençóis emaranhados,
A quentura que brota das camas
Mais flamejantes da cidade.

As estrelas protegem os desprotegidos,
Olhando enquanto eles dormem
Tão tranquilamente,
Tão silenciosamente,
Tão profundamente
Solitários.

Mas eu estou acordado nessa madrugada
Contemplando as luzes,
A chuva,
As estrelas,
A escuridão.
Mas eu sei que o meu coração
É claro como o meio dia.

- Vitor Rabelo de Sá

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O poeta

Ah!
Essa maldita dor de cabeça que não me deixa sonhar.
O que olho arde na vista,
Arde na vida.
Queria apenas voar como um pássaro
Em busca de um ninho
Para poder encher de vida
Aquele monte de galhos.

Ah!
Nada mais queria a um sorriso.
Nada mais queria a um afago.
Nada mais queria a um ser para
Entregar-lhe o futuro nas mãos.

Porque minhas mãos estão furadas
E o futuro escorre nelas,
E o futuro se esvazia de presente.

Porque o futuro é muito leve
Mas carrega um grande peso.
A vida.

E que se possa achar um poeta alegre,
Mesmo que quase impossível,
Pois o poeta que escreve com a tinta amada,
Há sempre uma dor a carregar.

Mas que poeta não sofre?
Apenas posso cantar:
"Sou um poeta e não aprendi a amar."

- Vitor Rabelo de Sá

Chora alma, chora

Agora a alma chora por saber
Que o corpo não quer mais viver.
Mas a alma quer vida, quer prazer,
Só que não há mais razão para saber.

Mas onde está você?
Está tudo tão escuro
Nesse ferro-velho.
Acho que a morte
Pode está me perseguindo.

Acho que não.
Espero que não.

Mas estou ferido,
A alma sangra.
Tudo está fraco.

Menos a esperança.

Ainda há o mínimo raio de luz
A tentar iluminar essa gigantesca caverna.
Ainda há o mínimo raio de luz
A tentar aquecer a alma
Já congelada.

Agora a alma dorme calmamente
Por saber que o presente machuca,
Tritura, esmaga o corpo.
A alma não quer chorar.

Mas o poeta chora.
Chora com o seu copo de bebida ao seu lado
Pois sabe que um pouco de imaginação
Pode alegrar a alma.

- Vitor Rabelo de Sá

Solidão

O que houve aqui?
O silêncio do passado está agonizando na minha mente,
Só consigo suportar essa dor,
Essa angústia.
A dor do fato apenas provoca o vômito,
O vômito da alma.
A culpa.

O que houve aqui?
Essa escuridão no sol está deteriorando aquela árvore,
Estou desorientado, perdido, em meio à escuridão.
Apenas fico sentado,
Esperando uma milagrosa brecha de luz,
O caminho para o futuro,
O desejo.

O que houve aqui?
Aquele barulho do amor está calado, desesperado.
Só consigo entender meus pensamentos,
Nem mais eles cantam como antes,
Tudo está um nada.
Mas o que é pensar?
Penso está pensando?
Ou o pensar é só ilusão?
É somente ilusão.

Mas o que houve aqui?
A multidão agora sumiu, apenas esse imenso salão vazio me alegra.
Minha proteção com eles se foi.
Solidão.
Solidão é um estar só no aumentativo.

Mas o que resta à esse moribundo que vai acordar?
Quando que essa boca vai sorrir, os olhos olhar?
Apenas o amanhã dirá, ou não.

Estou condenado com o tempo a espera de algo.


- Vitor Rabelo de Sá

O riso.

Hoje a boca não está para o riso.
Hoje o sol não consegue tocar a terra,
As nuvens estão bloqueando toda luz.

Mas hoje a boca não está para o riso.
Eu queria ver os seus dentes
Encandeando os meus olhos,
Mas sua boca não abre,
Não quer transmitir a alegria de uma criança.

Hoje o rio está seco.
As águas pararam de correr
Porque a fonte esgotou.
A floresta morrerá rapidamente
E não haverá mais o cantar dos pássaros.

Mas é que hoje,
Exatamente hoje,
A voz não quer falar, nem cantar, gritar.
O único quem grita é o silêncio.
Ele é quem mais grita.

A minha forma desajeitada de pedir,
De rezar, de querer alguma resposta
Não poderá sair de mim.
Porque a boca não está para o riso,
E o riso é a perfeição,
É o riso da felicidade,
Da alma,
Do corpo.

É o risso do querer saber o mistério,
É a voz do riso.
O riso é a vida.

Mas o que me resta agora,
Depois do bombardeamento,
Resta a esperança de que um dia
Tudo poderá ser como um dia pensei que fosse.

Fosse risada.

Mas hoje a boca não está para o riso.


 - Vitor Rabelo de Sá