domingo, 30 de setembro de 2012

Cicatriz

Antes do nada
Existia a minha vontade
De explodir a gaiola que me prendia.
Uma explosão de vida.

Consegui.

Da inoscência até a sabedoria
Levou-se muito tempo,
Quase uma eternidade,
Aproximadamente uma vida.

A alma cresceu,
Os desejos aumentaram,
O amor explodiu
Dentro das veias
Da vida.

A dor.

Ela chegou com o rompimento dos vasos.
Houve a inundação vermelha,
O prazer,
Houve o sangramento.
Houve, até mesmo,
O claro raio de Sol
Esquentando o gélido corpo
Quase moribundo,
Quase estragado,
Quase morto.

Mas não houve efeito.

Pobre Sol,
Tanta energia liberada
Para não alcançar seu objetivo:

Fazer o amor surgir
Sem precisar romper as veias,
Pois todo sofrimento gera cicatrizes,
Gera culpa
De não poder ter sido melhor,
Por ter errado.

Mas de que adianta a vida
Sem suas explosões?
Deixei de ser um nada.
Agora sou energia!


- Vitor Rabelo de Sá

O céu.

Apenas uma volta
Nesse circuito
Que chamamos de vida.

É o que chamo de viver.
Viver em busca de algo,
Em busca do outro.

Não...

Em busca de si

Vivo buscando o voo perfeito.
O salto perfeito,
O impulso.

Mas não vem,
Não tem como subir,
Não tem como melhorar.

Nunca melhorou.

E as torrentes mudaram de direção,
As águas mudaram de cor.
Está tudo azul.
Um azul da cor do céu,
Um azul que olha tudo,
Que é visto por todos.

Mas apenas é companheiro das nuvens.
E as nuvens são passageiras.

Só lhe resta casar-se com a solidão.


- Vitor Rabelo de Sá

Cai, cai cai. A gota.

Cai, cai, cai
A gota de vida no meu copo.
Cai, cai, cai
A gota de morte no chão.

E vai caindo a gota,
Vai alternadamente.
Uma no copo,
Uma no chão.

E vai caindo...

Mas a garrafa está cheia,
O que tem, não sei,
Só quero que derrame
Todo o conteúdo
Em meu copo.

Pois quero a vida,
Quero a limitação da pulsação,
Quero a determinação
Do respirar.

Mas o que ocorrerá,
Apenas a mim cabe saber.

E que esse copo não transborde de vida.
Porque se cair, torna-se morte.
A morde do desejo,
Da felicidade.

Então,
Que se beba moderadamente tudo isso,
Porque se acabar, também não há mais vida.

Então cai, cai, cai.
E vai caindo,
E vai surgindo,
E vai vivendo.
Vivendo.
Vivendo.
Vivendo.


- Vitor Rabelo de Sá.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Mais uma vez (márvore)

E mais uma vez
Houve a explosão,
E mais uma vez
Houve a escolha,
E mais uma vez
Houve o escuro...

O mistério que a alma carrega
No mais profundo segredo
Para proteger o que pensamos ser,
O que aparentamos mostrar
Para proteger a vida!

Essas águas escuras
Que arrastam minha atenção,
Que perturbam o meu sono

Essas águas escuras,
Geladas,
Mastigam,
Engolem,
Vomitam...

Mas quem está só,
Esperando que nasça o sol,
Ali, no canto,
Parado
Feito árvore querendo absorver vida,
Absorver a luz,
Quer o nascer do milagre.

Mas, antes da tragédia,
Antes do terror angustiante da dor,
Era apenas desejo, apenas amor.

- Vitor Rabelo de Sá

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Espero que guarde com bastante carinho esse pedaço de papel.
Espero também que tenha te ajudado, mesmo não sabendo quem seja.

Vitor,

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ouvir Estrelas.

Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouví-las,
muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálido aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e sem pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo?"

E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas"


(Olavo Bilac)

While My Guitar Gently Weeps by The Beatles (Piano Cover)

I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at the floor and I see it needs sweeping
Still my guitar gently weeps

I don't know why nobody told you
How to unfold your love
I don't know how someone controlled you
They bought and sold you

I look at the world and I notice it's turning
While my guitar gently weeps
With every mistake we must surely be learning
Still my guitar gently weeps

I don't know how you were diverted
You were perverted too
I don't know how you were inverted
No one alerted you

I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at you all
Still my guitar gently weeps

(I look from the wings at the play you are staging
While my guitar gently weeps
As I'm sitting here doing nothing but aging
Still my guitar gently weeps)
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O relógio.

Cada vez que se desloca
Aquele ponteiro do relógio,
A determinação da nossa vida,
Da minha vida,
Minha existência.

Envelheço a cada Tic.
Sobrevivo a cada Tac.

Um desespero por viver.
Uma esperança que nasce
De que, a cada barulho mecânico,
A vida vai se diluindo,
Se desmanchando,
Vai acabando.

Mas eu sei que vai demorar.
Não tenho pressa para que
A energia do relógio acabe.
Produzo energia a todo momento.

Só me cabe ter essa solidão
Dentro de mim.
Até saber quanto essa energia pode durar,
Mas eu não sei,
Você não sabe.

Só cabe a mim viver.
Só cabe a mim respirar.
Mas eu não dependo só de mim,
Mas você depende (de mim).

Ah, Tempo,
Que sua tortura seja longa e
Prazerosa.


- Vitor Rabelo de Sá

domingo, 9 de setembro de 2012

Tempo.

Tempo que não passa.
Segundos de uma eternidade...
O sufoco passa pela garganta,
Quero ar!
Quero vida!
Mas nada chega,
Nada vem,
Nada quer...

Quero apenas um punhado de tempo
Para salvar,
Para cuidar
Daquelas asas
Que quase não voam.

Ah, tempo,
Sempre sendo tempo.



- Vitor Rabelo de Sá